Pedro da Maia: educação e relação amorosa com Maria Monforte
A educação de Pedro, como vimos na aula, foi orientada pelo Padre Vasques, sendo, assim , católica. Regia-se por princípios obsoletos, concentrando-se no ensino de uma língua morta (o latim) e na memorização de conceitos que não são compreendidos por uma criança, como o dos "inimigos da alma". Por outro lado, Pedro também é alvo da superproteção da mãe, que temendo que o filho adoeça, evita o seu contacto com o ar livre.
Afonso bem tentava contrariar os efeitos deste método educativo que tanto o entristeciam, no entanto, essas tentativas eram infrutíferas, visto que Pedrinho já tinha sido afetado por um método educativo em que assumia um papel totalmente passivo e em que era superprotegido, mostrando receio no contacto com o meio exterior.
Pierre- Auguste Renoir, Coco (1910)
As características físicas e psicológicas que Pedro herdou da mãe ("ficara pequenino e e nervoso como Maria Eduarda Runa") foram agravadas pela sua educação. A sua fragilidade, decorrente do facto de não se ter desenvolvido a nível físico, está intimamente ligada à sua fraqueza a nível psicológico. O facto de ser confinado ao espaço ao espaço doméstico, onde lhe era exigido que memorizasse passivamente conhecimentos inadequados à sua idade, impediu-o de desenvolver a curiosidade e a capacidade de ter iniciativa.
A sua debilidade a nível psicológico manifesta-se nas crises pontuais de melancolia que o acometiam. Estes momentos de abatimento oscilam com uma vivência a nível emocional também marcada pelo desequilíbrio: Pedro manifesta uma paixão algo obsessiva pela mãe, que acabará posteriormente por ser substituída pelo amor - também excessivo - por Maria Monforte.
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«Pedro da Maia amava! Era um amor à Romeu, vindo de repente numa troca de olhares fatal e deslumbradora, uma dessas paixões que assaltam uma existência, a assolam como um furacão, arrancando a vontade, a razão, os respeitos humanos e empurrando-osde roldão aos abismos.»
Este excerto constitui o primeiro indício do modo como se irá desenrolar a relação amorosa entre Pedro da Maia e Maria Monforte.
De facto, será isto o que virá a acontecer: independentemente do passado do pai de Maria, que a torna uma noiva pouco conveniente, Pedro irá enfrentar Afonso da Maia e abandonar a sua casa para se casar com ela. Além disso, esta paixão é descrita como um "amor à Romeu vindo de uma troca de olhares fatal e deslumbradora" o que aponta para uma inervençãofunesta do destino, que conduzirá Pedro a um desenlace trágico.
Podemos afirmar que a paixão de Pedro por Maria Monforte é influenciada pelo Romantismo?
Sim, na medida em que ele se apaixona por ela apenas graça a uma troca de olhares - sendo o sentimento que se gera, de imediato, tão intenso que o torna incapaz de pôr em causa todas as convenções sociais para o concretizar. Além disso, a forma como ele a corteja é também, ela própria, profundamente romântica, colocando-se defronte da sua casa, «com os olhos cravados na janela dela, imóvel e pálido de extâse», e escrevendo-lhe, todos os dias, longas cartas.
De acordo com o Naturalismo, o percurso existencial do Homem era decisivamente influenciado pela raça, meio e momento histórico em que vivia. De facto, é isso que sucede com Pedro: a fragilidade física e psíquica herdada da mãe é reforçada por uma educação inadequada que contribui para o desequilíbrio da sua personalidade. Também o momento histórico influencia definitivamente a sua vida: o Romantismo então em voga marca a sua paixão por Maria Monforte, bem como os acontecimentos que sucedem durante o seu casamento. Por último, o seu suicídio é um desfecho marcadamente romântico.
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